20 de jan. de 2008

Exergar o Diferente

A famosa frase de Caetano Veloso “De perto ninguém é normal” serve para compreender o que pretendo comentar. As diferenças entre os indivíduos são construções de grupamentos que podem constantemente ser mobilizadas.
Se olhar no específico e quanto perto e mais específico e for o olhar para um indivíduo mais encontraremos os traços que o difere do restante da população, é comum os caras que tem irmão acha-lo bem diferente de si, entretanto ambos tem os mesmos pais, o mesmo idioma, crescem no mesmo bairro, convivem na mesma casa, e muito mais.
O que me faz achar diferente do meu irmão é o mesmo que o faz conhece-lo bem, ambos estamos interligados. No caso de uma pessoa distante, um estrangeiro, observar eu e meu brother andando pela rua, não vai enxergar grandes diferenciações, vai observar os dois indivíduos vestidos de uma forma similar, o que eu classifico como típico brasileiro, falando a mesma língua. Contudo a forma como os orientais do sudeste asiático são tratados por nós brasileiros, é a plena forma de um olhar distante, sendo comum escutar a expressão: “chinês é tudo igual”.
Diferente da comparação entre eu e meu irmão, seria a comparação entre eu é um japonês, em uma ocasião onde ambos estão andando pela rua, a princípio o nome nipônico já seria uma marca de tal diferença, os aspectos físicos, o idioma, o gosto culinário e tudo mais. Aspectos que permitem a seguinte indagação, como podemos classificar duas pessoas como distintas? O que tais diferenças significam? Quais tipos de diferenças existem? De que lugar precisa-se olhar para perceber determinada diferença? O que é necessariamente uma diferença?
Caso existisse um extra terrestre, e ele por coincidência me observasse junto com o japonês andando pela rua veria que ambos somos humanos, possuímos mecanismos de fala para nos comunicar, nos movimentamos de forma similar um pé atrás do outro, usamos roupas para proteger o corpo. Para ele ambos estariam em um mesmo grupo em sua classificação mental, ambos são terráqueos. Assim diferente do extra terrestre para as categorias biológicas somos iguais: mamíferos, humanos. Diferentes: DNA, digital, globo ocular.
A observação para criar o estigma de diferente está de acordo com o recorte espacial grupal usado para a observação, pode se falar de diferentes em qualquer lugar e de inúmeros jeitos, assim como pode ser falar de iguais inúmera localidade e indivíduos também. O discurso de semelhante e inimigo, igual e opositor, está intimamente ligado ao interesse de quem produziu tal discurso, tal relação. Alguns aspectos são objetivos é difícil negar que o japonês tem os olhos puxados, no entanto é algo perfeitamente questionável se a aparência física o transforma em um outro, um ser distinto com relação a mim ou trata-se a penas de um detalhe.
Mudando a direção do assunto, é comum a afirmação de que uma guerra fortalece a os laços internos da sociedade frente ao inimigo, como a guerra do Iraque onde muitos acusam Bush de usar tal guerra para aumentar sua popularidade e se reeleger. Devido à mobilização feita pelos americanos para tal guerra elas fortalecem os laços internos de unidade para o enfrentamento de um indivíduo externo, o outro. Os ocidentais Americanos contra os islâmicos iraquianos. A guerra no exterior é um alívio aos governantes, desloca as divergências setoriais e locais para o exterior. Caso o foco de discussão política fica geograficamente ou intelectualmente concentrado no interior do país, os cidadãos se reconhecem como diferente e começam as disputas internas, o inimigo é uma criação com um determinado objetivo específico. É velho o ditado “a guerra no exterior tem uma característica de paz interna”.
Entretanto os elementos contrários à guerra, buscando a paz de todas as formas, costumam falar que não tem sentido lutar devido ambos, N. Americanos e Islâmicos adorarem um deus único, todos monoteístas. De uma forma sutil criam uma igualdade entre os povos.
As diferenças e igualdades podem nos levar a uma constante alternância de foco de análise, um campo onde nada faz sentido.

Outras Diferenças

Em uma sociedade como a brasileira, onde cada trabalhador tem uma profissão específica, os laços de amizade servem, não para demarcar iguais e diferentes, mas montar uma rede a do “com quem podemos contar” onde diversos tipos de serviços são trocados, pode ser consertar um carro, traduzir um texto etc... . E tudo quanto precisar um amigo é sempre uma mão de obra prioritária. Procuram-se estranhos apenas quando não existe nenhum “ninguém” para fazer o serviço.
O problema desta prática é considerar um amigo um laço afetivo, diferente de uma relação econômica de produção ou ajuda mutua. Um amigo é uma pessoa que você pode contar. Este poder devido à existência de um laço afetivo que precede as relações materiais que podem vir a seguir depois que ambos são conhecidos, é o famoso “amigo para o que der e vier”.
Conforme a diversidade social há diversos tipos de amizade, entre as diversas formas de convivência, no entanto uma dentre as muitas me chamando a atenção. O rapaz legal para todos, que cumprimenta todos, fala com todo mundo indiferente de gosto ou circunstancia, curiosamente a finalidade de todos os seus contatos é formar uma rede de “com quem contar”, ou pior, tratar bem as pessoas porque um dia você pode precisar delas.
Este é um homem moderno do século XXI inseparável do seu celular, ele possui solução para qualquer tipo de problema, um Super-indivíduo, que a partir de contatos no celular possui uma rede, onde com apenas uma ligação pode resolver o problema porque sempre conhece a pessoa certa para cada caso, e pode fazer qualquer coisa de forma rápida e eficiente, infalível.
O legal de conversar e cumprimentar os outro é falar com quem se gosta, o cumprimento é um ato de prazer ao ver. No caso de a saudação a todos sem distinção for um ato de realmente gostar da coletividade, a ação deixa de ser mal vista e passa a ser algo louvável.
Mas assim como eu sou contraditório estas relações também são, cada caso é realmente específico, e cada pessoa tem suas normas, seus valores. Estou denunciando o modelo de super-indivíduo, em um modelo abstrato, porque difícil perceber novas tipologias em meio ao cotidiano social, ou para notar o diferente e incomodo, ou para ser o diferente e incomodar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Quanto as diferenças...
A pouco estava conversando com o meu irmão sobre como as pessoas nos veêm.Temos muita,muita, coisa em comum e no rolar da conversa...
Vi o quão diferentes parecemos p/ os outros,como somos recebidos:ME DECEPCIONEI- Não sei se por inveja das relações do meu irmão,ou porque aquilo nos afastava(não somos tão parecidos assim).
Somos essencialmente diferentes.( No meu caso:por mais que isso doa)

Vez por outra aparece uns,querendo mal dizer as diferenças,criando bicho-papão,pseudo revoltas.

Quanto as relações por interesse,não acredito nelas,e nem me interessam.
...tentando entender o "super -indivíduo",é mera defesa.

Carolina Lessa

Anônimo disse...

Quanto as diferenças...
A pouco estava conversando com o meu irmão sobre como as pessoas nos veêm.Temos muita,muita, coisa em comum e no rolar da conversa...
Vi o quão diferentes parecemos p/ os outros,como somos recebidos:ME DECEPCIONEI- Não sei se por inveja das relações do meu irmão,ou porque aquilo nos afastava(não somos tão parecidos assim).
Somos essencialmente diferentes.( No meu caso:por mais que isso doa)

Vez por outra aparece uns,querendo mal dizer as diferenças,criando bicho-papão,pseudo revoltas.

Quanto as relações por interesse,não acredito nelas,e nem me interessam.
...tentando entender o "super -indivíduo",é mera defesa.

Carolina Lessa

Unknown disse...

O "super- indivíduo" causa estranheza a algumas pessoas que o analisam talvez porque só o enxerguem como o diferente, aquele que se destaca em relação aos outros. Não consigo perceber nenhum mal em uma pessoa estabelecer uma rede de contatos, mesmo que às vezes não seja de amigos sinceros,e sim somente de pessoas que de algum modo poderão lhe ajudar no futuro.
Afinal, uma boa rede de relacionamento não se tornou o lema do século XXI? Não seria ela a melhor forma ou a mais fácil de solucionar problemas?
Assim como, quando dependendo do foco, enxergamos as diferenças no outro (mesmo que seja alguém muito próximo a você como irmão/a)queremos na verdade criar um distanciamento que preserve a nossa individualidade. Ou também não seria muito chocante encontrar no outro somente semelhanças?

Relatos disse...

Iza eu me surpreendi ao ler, seu comentário. Eu nunca tinha pensado em uma rede de contatos como uma marca tão clara do século XXI, o Orkut marca presença não somente no virtual, mas existem comportamentos do cotidianos que seguem a lógica do programa de Internet.

SuNamaste disse...

“a guerra no exterior tem uma característica de paz interna”. Interessantíssimo!!! O triste é q os lados "positivos" (e q não o são se formos ver para o q serve) não compensam os negativos. O erro de prioridade é constante! Isso já linka ao desenvolvido no tópico "outras diferenças" aonde se continua a seguir esse ideal produtivo ao invés do seu verdadeiro interesse pela coisa. É melhor cumprimentar pra não faltar carona pra voltar pra casa ao invés de só fazê-lo por prazer!! Vendo o q vc acha e levando em conta q sempre q nos encontramos vc fala comigo, só posso dizer q esse post me deixou muito feliz, guri!! :0)